“free” é uma ilusão, a vida online é um comércio…
Qual o custo que pagamos pelos serviços tidos como “gratuitos”? Já parou para se perguntar qual o modelo de negócio por trás disso? Por que o gmail e um monte de outros serviços são de “graça”? Como eles ganham dinheiro?
Esse post é um resumo, com minhas impressões, de um documentário da BBC intitulado “The Cost of Free” (O Custo do Gratuito). O documentário é uma reflexão a respeito do custo [individual, moral e social] pago pelos usuários dos serviços web tidos como “free”. O programa analisa como alguns negócios vêm tentando fazer dinheiro na web e é permeado por comentários de pessoas influentes como Eric Schmidt, Bill Gates, Jeff Bezos e Chad Hurley.
A discussão aborda desde a origem da web como negócio (comenta sobre a bolha das ponto com) e se estende através de questões como highly targeted advertising e privacidade, reforçando a ideia de que “free” é uma ilusão e de que a vida online é um comércio. Pagamos por uma web “livre”, usando como moeda a INFORMAÇÃO de quem somos como usuário (o que gostamos, fazemos, compramos, pesquisamos, etc…). Isso ajuda a entender, por exemplo, o modelo de negócio dos diversos serviços “gratuitos” oferecidos por Google.
Agrupei e resumi alguns pontos que merecem destaque:
1) Highly targeted advertising: Google (AdWord) é um dos maiores exemplos de máquina de fazer dinheiro que utiliza esse conceito na web. Ao invés de broadcast, a ideia é utilizar todo CONTEÚDO gerado pelos usuários (strings de busca, vídeos, emails, etc..) para ajudar na publicação de anúncios individualizados (cada usuário tratado como uma pessoa diferente). O serviço de e-mail é “gratuito”, mas o conteúdo de todas as mensagens é analisado e mapeado em anúncios relevantes (nem sempre) para você. Youtube, GMail, flicker são alguns dos exemplos analisados no documentário.
2) Behavioral targeting: além do conteúdo, as AÇÕES que tomamos ao navegar em diversos sites também são rastreadas através de cookies que alimentam outros mecanismos de targeted advertising. Grande parte dos sites e blogs utiliza essa prática.
3) Sistemas de recomendação: a Amazon é um dos principais players nesse assunto. Em geral, as soluções de recomendação dizem o que “pessoas como eu” fizeram e, para isso, utilizam o histórico de ações e perfil dos seus usuários. O NetFlix, por exemplo, utiliza o algoritmo cimematch que usa o histórico de filmes dos usuários para recomendar outros filmes. Uma questão filosófica levantada aqui: dizer o que “pessoas como eu” fizeram e me encorajar a ser cada vez mais uma “pessoa como eu” pode ajudar a me tornar cada vez MENOS EU e cada vez MAIS um TIPO DEMOGRÁFICO [talvez um dos meus tipos de pessoa]?
4) Privacidade: a noção de privacidade no século 21 é discutida aqui. Quais são os limites dos espaços públicos e privados na web? O caso do vazamento de dados de busca da AOL (2006) é analisado no documentário e o co-fundador do Attention Trust fala sobre o fracasso da proposta. Além disso, uma socióloga de Harvard fala a respeito do seu estudo sobre como jovens se relacionam em redes sociais. Enfim, uma reflexão a respeito de como nossos dados são coletados hoje e quais as implicações disso no futuro.
Recomendo o documentário, apesar de sentir falta de uma discussão a respeito de modelos de negócios para coisas mais recentes como social consumers/CRM, por exemplo. Além disso, achei alguns trechos com um tom meio conspiratório, passando às vezes uma ideia de que estamos sendo “espionados” o tempo todo. Se puder, assista e tente imaginar as consequências disso no futuro…